segunda-feira, 19 de abril de 2010

Crítica de “O Instante Decisivo” de Henri Cartier-Bresson


       É interessante perceber que Cartier-Bresson ao mencionar os filmes do cinema considera-o de forma contundente: “eles me ensinaram a ver”. Essa relevância da 7ª arte em sua obra fica evidente, mesmo ele sendo um repórter-fotográfico os seus enquadramentos tem uma dimensão poética, que ultrapassa o mero registro monótono do cotidiano, ou a frivolidade de uma ação típica de paparazzi. 

       Estar alerta para tirar fotos como que um “flagrante delito” demonstra uma atitude real de um artista, que está em sintonia com o universo, percebendo coisas que a amioria das pessoas não enxerga, passando batido, aquilo que muitos poetas notam mas o cidadão comum ignora por ter preocupações cotidianas, e o artista não, ele está “ligado” nestas pequenas coisas da vida, por isso dizem que eles são como loucos, que estão no “mundo da lua”. Infere-se daí a necessidade do artista ter um tipo de suporte para o exercicio de sua profissão, e no caso o Bresson tinha (“uma pequena mensalidade permitia que eu me virasse”).

       Como todo bom francês com razoável acúmulo intelectual (os melhores filmes franceses são aqueles onde há no máximo grunhidos: “A Guerra do Fogo” do Jean Jaques Arnoud) Cartier Bresson passa toda a parte deste texto explanando papagaiasticamente sobre o óbvio: que a fotografia é a estagnação do movimento, pois a foto é um instante da vida, e a vida é ininterrupta, mas foto cria-nos a ilusão que ela parou em algum momento, etc, blá-blá-blá, etc. Prefiro o contrário, no que ocorre no cinema, onde o fluxo das imagens é indispensável para a constituição desta arte, e a partir da imitação da vida neste fluxo imagético se conta historias, reportagens, documentagens… mas nos poupa destas firulas de extrair teorias a partir de algo que no meu entender deveria ser simples e notório. E o pior ocorre quando ele começa a lamúria que permeia a vida de 10 em cada 9 artistas inserido dentro da indústria cultural (comunicação de massa): “… algumas vezes corre-se o risco de se deixar moldar pelos gostos e necessidades da revista.” Parei aqui. Como produtor já ouvi isso trocentas vezes! Chega de mais do mesmo!

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