sábado, 15 de outubro de 2011

Tecnotópicos e Tecnofóbicos, os dois lados da mesma moeda


     Por trás dos avisos de precaução no uso da tecnologia (tecnofóbicos) e o discurso de redenção da humanidade pela técnica cientifica (tecnotópicos) há o claro desejo de aproveitar os movimentos de virada social que sempre ocorre nos momentos de mudança provocado pela evolução tecnológica, algo bem evidente nos dias de hoje. Isso pode ser observado não apenas nos trabalhadores quebrando as maquinas por considerarem um perigo aos seus rendimentos salariais, mas também nos padres e outro tipo de religiosos que quando da invenção do trem falaram que o mesmo levaria as pessoas que nele entrasse para o inferno, que o trem partiria naquela estação onde os passageiros estavam embarcando mas eles desembarcariam no reino do capeta, pois os líderes de igreja alegavam que a máquina era coisa do diabo. E também não podemos deixar de mencionar as intenções daqueles que querem fazer uma nova sociedade tecnologicamente hiper-desenvolvida ou mesmo hiper-evoluída através tão somente do desenvolvimento de qualquer técnica ou cientificismo, alegando que a evolução da humanidade se deu tão somente por parte disso. Tanto os entusiastas como os refratários à evolução da tecnologia tentam de uma forma ou de outra colocar a questão apenas em termos mecânicos, esquecendo que por trás de toda máquina há um ser-humano e este é o responsável.
       A Responsabilidade é que é a grande questão por trás de previsões e posicionamentos radicais em relação à tecnologia. Antes de qualquer invento ou uso de uma aplicação técnica há por trás um ser-humano, e nele há uma consciência. É o estado da consciência do ser humano – ou a falta dela, que irá determinar a finalidade do uso de qualquer tecnologia. Não importa a quantidade de coisas, maquinas e robôs tal sociedade disponha, sua intenção anterior é mais relevante.
       Nesse debate devemos estabelecer um parâmetro que determina totalmente se o uso da tecnologia pode ou não ser benéfico para a sociedade. Este parâmetro considera que pobreza é o único e real problema na sociedade e dele deriva todos os outros. Assim podemos considerar que o uso da tecnologia só será benéfico à sociedade se ela trouxer bem-estar a todas as pessoas, e no contexto atual todas as pessoas é todas as pessoas do mundo inteiro. A partir do momento que se aceita esta diretriz se estabelece automaticamente que qualquer coisa a ser construída, erguida, inovada, evoluída será feito para proporcionar o bem-estar aos seres humanos de todo o mundo, daí fica praticamente impossível continuar a evolução tecnológica tal qual ela se deu ao longo da Historia.
Como bem sabemos foram os reinos, os condados, os impérios, os governos, os estados que investiram e mais investem no desenvolvimento tecnológico, e sua principal finalidade sempre foi a proteção territorial, a conquista territorial, a rapinagem, a invasão... a guerra. Não apenas o desenvolvimento da informática e das telecomunicações que deram origem à internet, mas praticamente todo os outros setores da vida moderna tem como nascedouro pesquisas e desenvolvimento de coisas (geralmente armas e veículos para transportá-las) para finalidade militar. Para isso basta considerar os grandes cérebros a serviço de objetivos bélicos (Leonardo da Vinci, Albert Einstein, etc.) temos um quadro bem delineado sobre o real processo de desenvolvimento tecnológico da humanidade até então.
       Considerando esta nova diretriz para o desenvolvimento tecnológico a questão bélica fica impraticável, e assim sendo só resta usar o que temos e o que podemos aperfeiçoar para eliminar nosso único real problema, a pobreza. Ora, pobreza não é uma questão tecnológica, mas antes de tudo de estado de espírito, ela não pode ser medido por quantidade de coisa que alguém ou outrem possua, mas sim como alguém se sente em relação à vida, em relação a si mesmo e ao meio-ambiente. A vida precisa ser considerada em seu aspecto integral.
       Se todas as pessoas começasse a considerar que a vida precisa ser vivida de maneira integral certamente teríamos uma mudança radical na sociedade, tendo em vista que um dos fatores que torna a sociedade postada como ela está é exatamente o contrário. Desintegração, desequilíbrio, conflitos de toda espécie marcam a vida das pessoas, e pra chegarmos a essa conclusão não cabe apresentar dados sobre algo tão evidente. Ou seja: é uma questão de consciência, de desenvolvimento pessoal integral.
       Tecnotópicos e tecnofóbicos fazem parte do mesmo grupo por desconsiderar a consciência humana o real motivo do estabelecimento da dicotomia, se o sujeito está em conflito, se está dicotômico tudo que ele ver, considera ou realiza é a manifestação de seu estado mental, de sua consciência. Alguém pode pegar uma pá e utilizá-la para cavar as fundações de uma casa, mas o mesmo pode utilizá-la para agredir alguém. Os Tecnotópicos acham que ele irá sempre utilizar da primeira maneira, já os Tecnofóbicos acham que o mundo vai acabar com o uso constante e crescente da segunda maneira. Ora, depende da situação, pois talvez às vezes precisamos nos defender e usamos o que temos em mão. A questão é sempre de está consciente no uso das coisas e ter como diretriz um bem comum. A sociedade como um todo não treina pessoas para um bem comum, treinam para serem competitivas, para ter sua vaga no mercado de trabalho, pra ter uma nota pra passar de ano, pra ter um salário que possa comprar muitas coisas que a publicidade insiste de maneira sutil e implacável que precisamos obter custe o que custar, etc. Segundo esses valores e discurso no qual estamos submetidos desde criança a pobreza não é o real e único problema, mas ter coisas, acumular, competir e rivalizar é o norte a se chegar.
É fácil concluir que há um incentivo à excitação, uma carga que nos obriga a conseguir, a ganhar algo que vá alem, claro, de uma mera satisfação das coisas imediatas, o básico para assim não sofrer das necessidades imediatas, que é o que podemos considerar como pobreza. Neste esquema temos o ambiente social do nosso mundo, e por ele não considerar a pobreza como único problema a ser resolvido e incentivar um desequilíbrio mental nas pessoas é evidente que seu foco sobre as coisas (tecnologias e ciência) terá uma visão dicotômica, e essa dicotomia não significa que um lado está certo e o outro errado. Ele apenas indica o nosso estado mental de inconsciência, porque é muito fácil perceber que não chegaremos a lugar nenhum pelo uso constante de tecnologia (utopia) e nem pelo receio com o mesmo (fobia) vamos todos nos arrebentar num futuro próximo. O resultado do uso que fazemos dos instrumentos – seja ele elétrico ou mecânico, será o que o nos moveu antes de tocarmos a mão. É tudo uma questão de responsabilidade, e responsabilidade só existe quando há consciência.    
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