quarta-feira, 22 de abril de 2009

Até para a morte urge-se um pouco de coragem



Ele até tentou, ele até treinou: por diversas vezes nos dias e noites anteriores ficou saltando da cadeira, mas naqueles momentos de treinamento ele não havia ainda armado o cadafalso. Agora, tendo a corda diante de si, não é tão simples quanto pular, é preciso coragem para pôr a cabeça na forca e para a morte saltar.
Ele constata que até para cometer suicídio é necessário um mínimo de bravura, mas bravura foi o que lhe faltou durante toda a sua vida, e bravura lhe falta outra vez, nesta hora, a hora de transgredir, a hora de executar… de se matar.
Ele pensa em pedir ajuda, mas sente vergonha só em pensar como os outros poderão julgá-lo após saberem que sua vida foi um fiasco, e que até para se suicidar, ajuda de terceiros ele precisa para dar o último passo. Ele desiste, não vai pedir auxílio. Só lhe resta o desespero de sentar-se na cadeira, curvar o corpo e chorar.