segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Problema não é com o público, mas quem faz os filmes





Após leitura de artigo sobre a ocupação do filme brasileiro nas salas de cinema (Quando o brasileiro descobrirá o cinema nacional?) fiquei indignado ao constatar um movimento de crítica vazia ao problema de público dos nossos filmes, da distribuição e exibição, tentando relacioná-las com a forma mais usual de captação de recursos que dispomos (nunca mencionam o crescimento do Fundo Setorial do Audiovisual, que prevê retorno de parte do que foi investido), falta de ação do governo federal, alienação do povo com produtos “globais”, etc. Nenhum deles toca no ponto crucial: a maioria dos filmes feitos no Brasil não são pensados como produto de Comunicação de Massa, e sim como uma espécie de desabafo, de uma manifestação particular de uma pessoa sobre neuroses e recalques não muito claras nem mesmo para tais diretores de cinema, naquilo que se convencionou chamar “expressão do eu interior” (risos), mas que tambem é conhecida como “Cinema de autor” no intuito de adornar a excrescência, e que é largamente ridicularizado em alguns círculos quando se usa a alcunha “Filme de Arte” (+ risos).

Cinema é comunicação de massa. Como tal fazer um filme é ato de contar uma historia para um número significativo de pessoas, preferencialmente para milhões, que entendam do que se trata e no qual se predisponha a ficar umas 2 horas sentados diante de um discurso indireto, sejam eles com recursos técnicos apurados ou não, tendo em vista que efeitos especiais nunca serão garantia de sucesso do filme, não importa se esse for de 1, 2 ou 3 dimensões.

Não é problema da captação de recursos, apesar dessa estar saindo do dinheiro a fundo perdido concedido com critérios duvidosos para o retornável (como é o mecanismo do FSA gerido pela ANCINE). Não é problema do governo, apesar desse ter discutido, aprovado e sancionado a lei 12.485 que obriga os canais de TV Paga a exibir conteúdos nacionais de produtoras independentes, fomentando um mercado que já vem gerando escassez de mão-de-obra especializada no meio audiovisual. Não é apenas uma questão de falta de sala de cinema suficiente pra exibir o conteúdo nacional, se fosse assim as cerca de 5 mil salas no México garantiria um cinema pujante e reconhecido entre os locais, e não é isso o que acontece pois lá também Hollywood deita e rola.

O grande problema é saber contar a historia certa para o público exato. E isso não está restrito às comédias, pode ser o filão dos filmes espirituais, a ação policial dos Tropa de Elite, sutilezas como “O Palhaço”, comedias românticas com pitadas de erotismo tão bem explorada pela Globo Filmes, e até mesmo aqueles que são chamados de “Filme de Arte”, como é o caso de “O Som ao Redor”, um filme regional, com sotaque carregado, sem nenhuma estrela “global”, mas que está em cartaz a mais de 1 mês em parcas salas, que vem tendo uma ocupação altíssima (com público significativo em torno de 100 mil ingressos vendidos) e que não dispõe de nenhuma campanha agressiva de marketing, algo tão reclamado pela nossa “intelligentsia” crítica para a falta de público do cinema tupiniquim.

Tenho severas críticas ao “O Som ao Redor”, mas verdade seja dita: o tema e o desenrolar da trama está intimamente relacionado a maior parte dos brasileiros que vivem nos centros urbanos de nossa contemporaneidade, e nisso há identificação, há no mínimo respeito a um filme que a mercê da falta de uma narrativa que provoque emoções pra alem de elucubrações sonoras, desperta na audiência o reconhecimento ao medo comum de se viver nas metrópoles de nosso país. A mesma identificação no qual pode ter ocorrido acidentalmente no filme do Kleber Mendonça, não é sequer buscada pela maioria dos nossos realizadores cinematográficos, o que se pode comprovar pela grande produção de filmes por ano (uns 80 em media a pelo menos uma década) e a baixa audiência dos mesmos. É esse o ponto, e não problemas com a origem dos recursos, falta de sala, falta de marketing e muito menos o público, pois esse é rei.

 

MINHA CRÍTICA NOS COMENTÁRIOS AO ARTGO MENCIONADO

 “Sempre a mesma historia nesses artigos metidos a sermões da montanha, cheios de crítica ao governo que não fez isso nem aquilo. Tô cansado dessa ladainha, e pior é ver sendo reproduzida aqui nesse que pra mim é um espaço-nobre. Ora pombas! o brasileiro não vai descobrir nada, ele irá ver filme - preferencialmente na sua língua, quando esse lhe disse alguma coisa, que mexa em seus sentimentos e que lhe envolva, ou seja: filmes com uma boa historia, relacionado a sua realidade - seja a pragmática (Tropa de Elite) ou a subjetiva (filmes espíritas/religiosos). Outro dia apareceu por aqui um artigo rastaquera tentando nos convencer que o problema do cinema brasileira era o alto custo da câmara fotográfica. Putz, até hoje me arrependo de ter dado o trabalho de ler. Agora mais esse que alem de ser uma porção de lamentos sob dados concretos do crescimento da produção e do público de cinema no Brasil, vem com essa questão estapafúrdia do quando um povo irá descobrir sua cinematografia... blá blá blá!... O público sempre irá vê aquilo que lhe toca. O maior problema do cinema brasileiro continua sendo a distância de seus realizadores (nem sempre produtores que entendem do negócio CINEMA) para com o público. E pode se agravar pois a demanda irá aumentar com o VALE-CULTURA e aí o chorôrô será ainda mais intenso e apelativo do tipo: "Culpa da dilma, que usa vermelho e atrapalha a mente dos diretores de fotografia brasileiro". Putz!”


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