quinta-feira, 19 de julho de 2007

A FINAL DA COPA DO MUNDO e O HOMEM POLÍTICO




Ontem, após assistir a final da copa do mundo de 2006 entre Itália e França ficou-me mais ainda clara a relação que determina a superioridade do homem político sobre o homem de relações abruptas, o homem que age de forma instintiva e mecânica; confirmando determinantemente a máxima que diz que o ser-humano é um animal político. Pois vejamos...

Como é que esse Zinedine Zidane comete aquele ato grotesco no adversário (e olha que o Grosso tava era no outro time) levando a sua expulsão, provocando a inferioridade numérica e emotiva de seu time que abalado foi para os pênaltes arrasado, encerrando a sua carreira de forma manchadamente triste, tão somente por algumas palavras dita pelo seu adversário a sua pessoa? Ou seja: como que apenas meras palavras que levaram aquele que vinha sendo a principal personalidade da copa perder a cabeça, agredir o jogador italiano Materazzi, e botar tudo a perder? Perdeu seu time, perdeu os franceses, e perdeu ele que manchou definitivamente sua carreira pois esse foi seu útimo jogo como profissional, uma despedida melancólica. Como Assim? Vamos começar a explicação com um pouco de filologia...

A palavra Política tem sua raiz na palavra grega "Polis" que significa cidade, que aqui tem sua relação aplicada as pessoas, aqueles que vivem na cidade é um ser político, pois sua relação com os demais cidadãos está baseada em fatores diferentes de alguém que vive no campo, nas aldeias, nas florestas, nos bosques, etc., aqueles que não vivem nas cidades tem uma relação próxima a atitudes e maneiras que alguns chamaram de bárbaro, de tosco, de instintivo, de mecânico.

Toda a evolução da sociedade tem seus pontos de ruptura claro e bem assimilado ao longo da historia humana registrada. O caso do surgimento da ciência política é fruto do estabelecimento do império grego. O fato de não terem mais com quem guerrear, não terem adversários e nenhum povo para importuná-los em termos de batalha, fez com que as várias cidades gregas chegassem a vários acordos e consensos entre seus moradores, provocando o estabelecimento da relação social de cidade, e nas relações sociais o que fica explícito é a relação de poder que é travada intelectualmente entre os homens (que nesse caso é uma questão de gênero mesmo, pois na grécia antiga a mulher não era considerada um cidadão), esse conflito que se estabelece nos diálogos e ações dos cidadãos sempre em busca do status é o que caracteriza o ato político, que ao longo da história e desde a grécia antiga veio a ser pesquisado, catalogado e registrado como a ciência política, que nada mais é do que a metodização do estudo da ancestral relação dos homens com os outros na eterna busca de ascenção e consumação do poder.

Dito isto, entendemos que a política é algo típico também de uma classe, o animal político é assim por dizer o bicho que se relaciona de forma diferenciada com seu semelhante, tendo como base o seu raciocínio e principalmente a visualização e percepção das consequências que suas atitudes podem provocar no meio em que vive, obviamente, com base nas vantagens que isso pode provocar nas ascenções que determinados atos podem provocar em seu desempenho social. A classe política é aquela que se vale da linguagem falada para atingir seus objetivos, diferenciando definitivamente das outras classes que não tem a habilidade da palavra, da comunicação, da persuação, da retórica, da capacidade de irritar o outro, enfim: o diálogo.

Foi no diálogo travado ontem no segundo tempo da prorogação da final da copa do mundo, que Materazzi deu um show de política e Zidane mostrou ser vulnerável socialmente, resultado: Zidane se danou! E Materazzi campeão se tornou. Foi um ato político puro: Materazzi valeu-se somente e habilmente da linguagem falada para provocar o adversário, ao ponto deste quebrar as regras do jogo e ser banido da disputa, banido da possibilidade de ser campeão, banido da possibilidade de ascenção, de status, ou seja: todas as formas simbólicas que determina as relações sociais de nós, humanos.

É de se constatar então que para ser campeão, para ter ascenção social, para ter inclusão social, para estar em pé de igualdade na polis (não estou falando só de Grécia, na nossa cidade também é assim) com os demais semelhantes, é imprescindível ter a habilidade da política, e esquecer de vez a bobagem que político é o fulano que ocupa o congresso nacional, a câmara legislativa do estado, a câmara de vereadores do município, o senado, etc., que anda sempre de paletó, e quase sempre está envolvido em denúncias... Isso é apenas uma formalidade oriunda da evolução de nossa organização social, mas antes deles chegarem aos cargos que os caracteriza como político eles, certamente, já faziam política, pois para ser eleito, para ter apoio de vários setores da sociedade, para fazer parcerias, para espantar os adversários, para por respeito aos inimigos, o sujeito deve ter feito muita política antes, muito diálogo. A palavra "parlamentar" vem do italiano "parlare" que significa simplesmente falar. É isso que nós precisamos aprender e ensinar aos que não sabem: a arte da política, a habilidade da política. Em nossa cidade é urgente essa capacitação, uma capacitação em massa da Ciência Política, pois o sujeito que não tem as noções de política está impossibilitado de conviver no ambiente social, ele permanecerá excluído, fora da ágora, fora dos ambientes de decisão, totalmente alheio, alienado, ele será apenas o cumpridor de ordens e deveres que outros, os políticos, determinaram como regra, lei, ética, etc., e obviamente que essas leis e regras vão primeiramente beneficiar aqueles que as elaboraram, para só depois chegar aos demais, e talvez - é o que geralmente acontece, chegue aos que não entendem e não praticam a política de forma abrupta, provocando neles a contrariedade e fazendo com que se revoltem e cometam atos espúrios, acatando a eles as penas que as leis e regras estipulam: são pegos, são presos, são encarcerados, e como nosso colega Zizou, são expulsos do ambiente de sociabilidade.

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